Tomara pílulas para dormir.
Com os braços caídos pelos lados da cama encontrava-se o menino deitado.
Passara o dia inteiro de ressaca recuperando-se da noite anterior.
Mal lembrava do fizera, visualizava pequenos flashes, e nada mais.
O menino sonhava com sua infância, sua inocência, sua felicidade ao jogar bola quando pequeno. Felicidade esta que só alcançava lá pela terceira carreira esboçando um sorriso, em êxtase.
Aquele menino de 22 anos deitado na cama poderia ter vivido muito mais, e muito melhor não fosse por aquele mero acontecimento.
Agora carcomido pelas drogas, roncava na cama.
Já não tinha mais esperanças, seu próximo passo era no vácuo.
Totalmente perdido, não sabia o que fazer, e acabava nessas festas, desorientado.
E com razão. Só encontrava refúgio na fonte, nas drogas.
Começou com a erva, e dali pra cá piorava cada vez mais.
Se corpo agia por impulso, não havia mais nada que pudesse fazer.
Acordara nesse dia sem saber onde estava, ao lado de quem nem nunca tinha visto.
Um bom banho quente reconfortara o menino um pouco.
O banheiro, imundo, cheio de seringas e vestígios de sangue, o fez vomitar.
Na televisão, morte.
No rádio, o mesmo.
Na geladeira, uísque.
Bebera a garrafa inteira e tomara pílulas para dormir.
Os sonhos pareciam piorar.
Sonhava com a morte dos pais, o tio pedófilo.
A tia alcoólatra. As noites de frio na rua. O rosto dos que roubara.
O menino de repente tremia violentamente.
O rosto dos que matara.
No quarto, trancado, só havia ele e uma música que ecoava no quarto, que repetia incessantemente o refrão.
O sonho terminou, seu rosto agora tranqüilo expressava uma leve sensação de paz interior.
Sonhava agora com o mar, cercado por quilômetros e quilômetros de água.
Pensou sentir água nas pontas dos dedos, mas voltou a sonhar.
Sonhava agora com o breu, tudo muito escuro, um vazio, uma sensação de solidão o dominou.
A música agora silenciara.