Ideofrenias nonsense

Monday, April 14, 2008

É meninos, sei que esse não vai ser um post que vcs vão se identificar muito, mas tudo bem até pq sei que os leitores por aqui não são muitos.


Sobre depilação


Sábado, meio dia.
Acordo com o mau humor usual e a ressaca nossa de cada dia e me recordo de minhas pernas cabeludas.
Estico o braço, bebo os últimos goles mortais de minha garrafa d’água sempre à postos na minha cabeceira e me arrasto da cama. No banheiro, após o xixi matinal e higiene bucal preventiva, fito o espelho e olho no fundo dos meus olhos e prometo a mim mesma “Hoje eu vou à depilação”.
Determinada, porém cansada e pouco disposta começo a me vestir para o calor de um sábado à tarde. Shortinho, sandália e blusa sem maga. Sem antes me lembrar do repelente, que hoje em dia no rio de janeiro é mais importante que a camisinha. (não que ela não seja importante, bom, deu pra entender)
Infesto minhas pernas ligeiramente repulsivas com o líquido fétido que sai como um espirro do frasquinho laranja e me vejo pronta para sair após um café rápido.
Na rua lanço meus óculos escuros e torço para não encontrar nenhum conhecido e ter que inventar uma desculpa esfarrapada de algum compromisso inadiável que já estou atrasada. (tenho muitos compromissos nos sábado pela manhã)
Atravesso o largo do machado com destreza, desvio de alguns pedintes e panfletantes e quando chego ao meu destino me lembro que esqueci meu ipod, o acessório moderno imprescindível quando é preciso permanecer numa fila.
A atendente, como sempre, muito simpática, me enche de perguntas novinhas em folha e meu humor matinal luta com meus pêlos gritantes para não dar uma resposta desaforada.
Após completados os procedimentos, me sento ao lado de várias outras mulheres que também farão uso dos mesmos serviços e me esforço para não pensar no que ocorre debaixo de tantas roupas, que por sinal, costumam ser bem compridas.
Esmagada entre duas “cheinhas” numa poltrona que facilmente caberiam quatro pessoas lanço meu livro pré-adolescente e começo a lê-lo quando me deparo com a real razão de sempre andar com meu tão querido ipod: uma televisão sintonizada num canal que não satisfeito em não ter programação só fala de outras emissoras e faz fofocas de “celebridades inn”.
Além da programação excelente percebo uma interferência no canal, que por sinal já estava altíssimo. Depois de respirar bem fundo e pegar um cafezinho delicioso de cortesia escorreguei mais uma vez entre nádegas suadas e ouvi uma música ao fundo após avançar mais algumas páginas do livro. Voz grave, melodia pobre. “Que porra é essa?” “não sei pa-aaraaaar de te olhaaaar” ‘PUTAQUEPARIU, ANA CAROLINA NÃO!”
Me levanto com dificuldade do pequeno vão destinado à mim e decido voltar para casa imediatamente. Olho para os lados e percebo que a fila aumentara significantemente após minha chegada e concluo que talvez valha a pena esperar mais um pouquinho.
Muitas folhas, alguns capítulos e várias dezenas de minutos passados, finalmente chamam meu nome. Passo pelo corredor como se estivesse me dirigindo à morte, a atendente que tanto xinguei nos meus pensamentos me lança um sorrisinho sarcástico que me sobe a cabeça e no momento que meus olhos brilham de raiva a encarando percebo porque alguém se rebaixa a trabalhar num lugar desses ganhando um salário de merda e se passando o dia inteiro de retardada mental.
A variedade de rostos com expressão de pavor que essas mulheres sádicas têm na cabeça é absurdo, e com certeza faz valer a pena.